quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Comissão Europeia - Programa Nacional de Barragens

Resposta do Comissário Europeu do Ambiente
à pergunta de Diogo Feio (PPE)

E-4376/09PT

Resposta dada por Stavros Dimas

em nome da Comissão

(18.11.2009)


A Comissão confirma ao Senhor Deputado que lhe foi apresentada uma queixa segundo a qual o Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hídrico (PNBEPH) respeitante a Portugal, que prevê a construção de 10 novas barragens em diversas bacias hidrográficas, viola o disposto na Directiva 2001/42/CE[1], de 27 de Junho de 2001, relativa à avaliação dos efeitos de determinados planos e programas no ambiente, e na Directiva 2000/60/CE[2], de 23 de Outubro de 2000, que estabelece um quadro de acção comunitária no domínio da política da água.
Tendo em conta a complexidade do processo, a Comissão encomendou um estudo externo. As conclusões deste foram recentemente disponibilizadas.
A Comissão está prestes a concluir a avaliação do estudo que lhe permitirá, no mais breve prazo, tomar uma decisão sobre o processo e sobre eventuais medidas ulteriores.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

BE pede suspensão do PNBEPH

O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda entregou na passada sexta-feira, na Assembleia da República, um Projecto de Resolução, recomendando a suspensão e revisão do Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico, projecto esse que se publica abaixo.
Sobre este assunto, o BE enviou recentemente duas perguntas ao Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território e ao Ministério da Economia da Inovação e do Desenvolvimento.


PROJECTO DE RESOLUÇÃO N.º …….. /XI

RECOMENDA AO GOVERNO A SUSPENSÃO E REVISÃO DO PLANO NACIONAL
DE BARRAGENS DE ELEVADO POTENCIAL HIDROELÉCTRICO (PNBEPH)

Em 2007, o Governo português estabeleceu como objectivo estratégico para a energia
hídrica a obtenção de 7.000 MW de potência instalada em 2020.
Este objectivo foi justificado com os propósitos gerais de aumentar a energia primária
consumida com origem em fontes renováveis (45% até 2010), de forma a reduzir a dependência energética do exterior e dos combustíveis fósseis, bem como de mitigar as emissões de gases de efeito de estufa (GEE).
Para alcançar parte importante desse objectivo foram seleccionadas 10 novas grandes barragens a serem construídas (1.150 MW), dentre 25 alternativas possíveis analisadas no Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico, doravante designado por PNBEPH, sujeito a uma Avaliação Ambiental Estratégica.
O PNBEPH tem sido alvo de forte contestação pública, nomeadamente por parte de várias organizações ecologistas e movimentos cívicos, devido aos impactes negativos graves que a construção de grandes barragens acarreta, tanto em termos ambientais, entre os quais se destacam a afectação da biodiversidade e ecossistemas aquáticos e a degradação da qualidade da água, como em termos socioeconómicos, sendo de referir a perda de terrenos agrícolas, o desaparecimento de património, entre outros. Estes impactes
tornam-­se ainda mais graves quando os benefícios energéticos do PNBEPH são residuais e poderiam ser alcançados com outras medidas de fácil aplicação e mais custo-eficientes.
Também a opção por alguns dos empreendimentos tem sido polémica, em particular a
barragem do Foz Tua, Fridão e Almourol, devido às importantes consequências que infligem nas populações afectadas e ecossistemas.
Um relatório encomendado pela Comissão Europeia e enviado às autoridades portuguesas
em Julho de 2009, confirma estas críticas ao fazer uma avaliação muito negativa do PNBEPH. As suas conclusões são claras quando afirmam que o mesmo tem “lacunas graves” e não faz a “comparação adequada” entre os benefícios da construção das barragens e os seus custos ambientais, sobrevalorizando os primeiros.
Uma das consequências mais graves apontadas pelo relatório é o risco de incumprimento
da Directiva Quadro da Água (DQA) no que diz respeito à garantia da qualidade dos recursos hídricos, um compromisso assumido por Portugal e que deve ser atingido, o mais tardar, até 2015.
Igualmente, são referidos vários impactes negativos importantes em ecossistemas
sensíveis, inclusive com a afectação de espécies ameaçadas e habitats prioritários
pertencentes à Rede Natura 2000, sendo a avaliação dos impactes do PNBEPH sobre o
meio aquático considerada de “muito pobre”.
São também referidas como debilidades sérias a ausência do estudo dos impactes
cumulativos ao nível de cada bacia hidrográfica ou o efeito das alterações climáticas sobre a disponibilidade hídrica, o que afectará a qualidade das águas e a capacidade de produção eléctrica dos empreendimentos.
Considerando que seis das novas barragens se vão situar na bacia hidrográfica do Douro,
cinco das quais na sub-­bacia do Tâmega, onde a presença de barragens já é significativa e a poluição das massas de água é considerada muito grave, torna-­se fundamental estudar se os efeitos cumulativos originados pela construção de novas barragens poderão potenciar de forma alarmante os impactes negativos nos ecossistemas e biodiversidade, qualidade da água e dos riscos induzidos, como é o caso da erosão costeira.
O fenómeno das alterações climáticas também não é de desvalorizar, como indica o relatório, já que as previsões estimam uma redução da disponibilidade dos recursos hídricos de tal ordem que implicariam uma redução da produção eléctrica até 55% para garantir a manutenção de caudais mínimos e a boa qualidade das águas. Esta é uma das razões pelas quais o relatório considera que o contributo energético do PNBEPH está claramente sobreavaliado, o que poderá colocar mesmo em causa a viabilidade económica de algumas das novas barragens previstas.
O PNBEPH incorre em erros graves desde a sua origem, claramente identificados no relatório europeu. A avaliação ambiental estratégica que lhe deu origem não executa uma avaliação custo-­‐benefício completa, não realiza uma avaliação abrangente dos impactes sobre os ecossistemas e recursos, nem faz uma comparação socioeconómica de estratégias energéticas alternativas.
Estas são exigências presentes na própria DQA, quando nos seus pontos 4.5 e 4.7
estabelece que novas infra-­estruturas, como sejam os empreendimentos hidroeléctricos,
só poderão ser construídas após a avaliação de alternativas e se os seus benefícios foram superiores aos objectivos ambientais a atingir nas massas de água. Ou seja, o modo como o PNBEPH foi elaborado constitui uma violação da própria DQA, o que é inaceitável.
Relativamente ao contributo do PNBEPH para se atingirem as metas energéticas e de redução das emissões de GEE, note-­se que a sua concretização irá representar apenas 3% do consumo de energia e 1% da redução das emissões. Quando Portugal desperdiça cerca de 60% da energia que consome, parte importante da qual poderia ser facilmente poupada com taxas de retorno muito elevadas no curto prazo, e continua a apresentar taxas de crescimento do consumo energético muito elevadas, torna-­se claro que esse contributo será ainda mais residual esse contributo (no período de 2000 a 2005, a taxa de crescimento anual para o consumo de energia primária situou-­se nos 6,8% e para o consumo final de energia nos 12%).
Os custos ambientais da construção destas grandes barragens tornam fundamental o estudo de alternativas energéticas capazes de atingir os mesmos objectivos com menores impactes, o que é perfeitamente plausível no campo da poupança energética, onde o potencial é enorme, e pela prioridade ao investimento nas fontes renováveis com maior sustentabilidade ambiental e social.
O Bloco de Esquerda defende que o PNBEPH deve ser imediatamente suspenso e
reavaliado, dado existirem erros graves na sua concepção que implicam, tanto uma
incorrecta avaliação dos impactes negativos sobre os recursos hídricos e a biodiversidade,
como a ausência do estudo de alternativas energéticas para concretizar os objectivos
propostos de redução da dependência aos combustíveis fósseis e das emissões de GEE.

Assim, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda propõe à Assembleia da República que recomende ao
Governo que:

1 – Suspenda o PNBEPH e proceda à sua reavaliação por uma entidade independente,
constituída por técnicos reconhecidos na área da energia, ambiente e território e
representantes de organizações da sociedade civil ligadas a estas áreas;
2 – No processo de reavaliação realize-­‐se, obrigatoriamente, a comparação dos
impactes e custos-­‐benefícios ambientais, sociais e económicos da opção de construir
barragens e de soluções energéticas alternativas, incluindo o estudo combinado
entre opções, tendo em conta as metas de incorporação de renováveis, diminuição
de dependência aos combustíveis fósseis e redução das emissões de GEE;
3 – No estudo sobre a opção da construção das barragens seja realizada,
obrigatoriamente, a análise dos impactes cumulativos ao nível de cada bacia
hidrográfica, das previsões das alterações climáticas sobre os recursos hídricos, dos
efeitos na qualidade das massas de água e cumprimento da DQA, das consequências
sobre os ecossistemas aquáticos e a biodiversidade, sobretudo em zonas da Rede
Natura 2000;
4 – Suspenda todas as decisões relativas ao lançamento de procedimentos concursais
de concessão das barragens previstas no PNBEPH, bem como os relativos aos
procedimentos em instrução ou concluídos, até estar concluída a reavaliação e a
Avaliação de Impacte Ambiental de cada um dos empreendimentos hidroeléctricos
que sejam seleccionados por esta reavaliação, elementos decisivos para a tomada
de decisão sobre a construção ou não de cada uma das barragens.

Palácio de São Bento, 19 de Novembro de 2009.
Os Deputados e as Deputadas do Bloco de Esquerda,

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A lei, definitivamente, não é igual para todos


«Este país não pode viver sem barragens e ninguém nos pode impedir de as construir», dixit Orlando Borges.
Interessante esta frase. Escrita sem o imediato acompanhamento do nome parece ter sido dita por um qualquer investidor de uma empresa de construção ou de produção de energia. Mas não, foi dita pelo nosso presidente do Instituo da Água (INAG) Orlando Borges. Ao analisarmos o que defende este instituto público que se intitula como a majestosa «Autoridade Nacional da Água», reparamos num importante excerto: «O INAG, I. P., como Autoridade Nacional da Água, tem por missão propor, acompanhar e assegurar a execução da política nacional no domínio dos recursos hídricos de forma a assegurar a sua gestão sustentável, bem como garantir a efectiva aplicação da Lei da Água».
Consequentemente, o seu presidente, Orlando Borges, deveria ter uma missão pública com a mesma natureza que o instituto público que preside, ou seja, defender a gestão sustentável da água e garantir a efectiva aplicação da Lei da Água. Como a Directiva comunitária Quadro da Água já foi transposta para a ordem jurídica nacional, a nossa Lei da Água rege-se pelos mesmos parâmetros que a Directiva Quadro da Água europeia.
Posto isto, realço uma conclusão de um estudo internacional, encomendado pela Comissão Europeia, que afirma se em Portugal todas as barragens previstas no PNBEPH forem construídas, Portugal não conseguirá cumprir os parâmetros de qualidade das massas de água previstas na Directiva Quadro da Água/Lei da Água para 2015.
Sendo assim, porque razão o presidente do instituto público que deveria garantir a aplicação da Lei da Água/Directiva Quadro da Água declara publicamente um incentivo a uma acção que desrespeita uma lei, uma lei que ele deveria garantir a sua aplicação?
Quando gestores públicos no cargo das sua funções (públicas) vêm defender interesses privados e corporativos contra aquilo que as suas funções (públicas) determinam claramente o que deveriam defender, sinto-me horrivelmente ridículo. Não entendo, não compreendo e penso que nunca aceitarei que numa sociedade como a nossa, num Estado como o nosso, com uma Justiça como a nossa, se permite a existência, quase eterna, no domínio da coisa pública de gestores e decisores públicos como Orlando Borges e afins.
Este país não pode viver sem dignidade e ninguém nos pode impedir de a construir. E assim concluo, tal como comecei, parafraseando Orlando Borges.


Publicada, por Marco Gomes

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Para Memória Futura

Sr Presidente da República

Excelência:

como os mais recentes desenvolvimentos em torno do Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial HidroEléctrico, vieram trazer à luz do dia, os exactos argumentos que tivemos ensejo de explanar na audiência que V.ª Ex.ª se dignou conceder-nos em 24 de Julho de 2009, nomeadamente, a perversão da Directiva-Quadro da Água, que já nos havia levado a subscrever formalmente, junto da Comissão Europeia, a queixa das Associações Ambientalistas que esteve na base do recente relatório encomendado a uma comissão independente (e de que o Governo se mostra renitente em abrir mão) , seja-nos permitido começar por reproduzir a forma como condensamos em http://poramarantesembarragens.blogspot.com/ , o resultado da diligência.

Já posteriormente endereçamos ao Excelentíssimo Presidente da Câmara Municipal de Amarante, uma carta aberta (ainda não tornada pública) questionando as implicações de segurança da(s) barragem (s)de Fridão, que teve , sem qualquer surpresa nossa , a mesma resposta do parecer jurídico que a própria Câmara deliberou encomendar ao seu gabinete jurídico (calendas gregas). Num contacto informal o autarca de Amarante limitou-se a responder que iria (ainda?!) remeter a questão ao INAG.
Neste contexto , vimos assim reiterar a justeza e legitimidade das nossas razões, exclusivamente determinados pelos mais genuínos interesses das populações do Vale do Tâmega, tão desguarnecidas perante negócios colossais e um poder autárquico titubeante e demasiado complacente, assistindo impávido ou comprometido, ao implacável esbulho de valores que se não compadecem de lógicas mercantilistas nem argumentos falaciosos, quando um património de gerações - quando não a sua própria segurança - anda em leilão.
Certos de que V Ex.ª não deixará que este assalto prossiga de ânimo leve, confiamos no vosso magistério como respaldo das inquietações e derradeira esperança das populações do Tâmega tão abandonadas pelos eleitos locais que nesta luta tão desigual, partiram antecipadamente vencidos ou capitularam , por razões que só eles próprios conhecerão.
Assim, e em representação dos grupos cívicos que se batem contra a barragem de Fridão - em particular - e contra "este " desenfreado PNBEPHE , vimos solicitar do mais alto magistrado da Nação, que se digne levar em linha de conta, e ao mais alto nível, o nosso sentir, inconformação e revolta, traduzidos nestas posições que, em final reproduzimos com o aval dos subscritores.

Em representação dos Grupos de cidadãos, "Por Amarante Sem Barragens" e " Movimento Cidadania Para o Desenvolvimento do Tâmega".

Com os nossos mais respeitosos cumprimentos

Artur Teófilo da Fonseca Freitas

20 de Novembro de 2009



CARTA ABERTA
AO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE AMARANTE

Exº Sr. Presidente da Câmara Municipal de Amarante:
Porque V. Ex.ª mais parece apostado em manter no limbo, como questão arrumada, a problemática das implicações de segurança da projectada barragem de Fridão, apoiado numa apreensão subjectiva e empírica, dos depoimentos dos técnicos de Águas e Estruturas de betão, que participaram na sessão que decorreu no Salão Nobre do município, em de 20 de Março de 2009, e onde foi notada a falta de um perito de Protecção Civil, recomendamos-vos o estudo disponível na Internet, sobre Segurança e Risco nos Vales a Jusante de Barragens, da autoria do Prof. Catedrático do IST, UTL – A. Betâmio de ALMEIDA, Consultor Director do Projecto NATO PO-FLOODRISK, por forma a refreardes o vosso optimismo e a minimização do risco, que excede o daqueles técnicos mais ou menos vinculados ao Programa de Barragens que lhes compete defender, enquanto ao Presidente da Câmara de Amarante pertencerá enfileirar do lado das preocupações legítimas dos seus munícipes, perante a ameaça de duas grandes barragens de tamanhas proporções, a uma distância que torna irrisório o mais elaborado plano de emergência.
Concedendo a este professor catedrático, que pontifica na área das ameaças a jusante, o crédito devido àqueles insignes colegas noutras vertentes da problemática das barragens, estamos convictos de que V Ex.ª terá que admitir que alguém está a obstruir, no "drama" da Avaliação de Risco Partilhado, a entrada em cena de um dos actores obrigatórios, e logo na fase de projecto: a população a colocar em risco.
Daí a inevitabilidade de o vosso discurso optimista estar a caucionar - ainda que de forma não deliberada - um dos lugares comuns que ali se reputam de nefastos e envolvendo responsabilidades morais e materiais arrasadoras para os que conscientemente amparem a ocultação dos riscos que as populações devem, por direito, conhecer, ponderar, aceitar ou repudiar, como directamente afectados.
É perante essa virtualidade que nos sentimos legitimados a contrapor alguns conceitos erigidos naquele estudo, perfeitamente rebatíveis para o caso concreto do empreendimento de Fridão e do risco efectivo que acarreta para a população de Amarante, o que nem os técnicos que reunistes, se atrevem a iludir:

- As barragens e as albufeiras têm um papel positivo no âmbito da gestão dos recursos hídricos mas são igualmente um factor de risco acrescido nos vales onde estejam construídas.

- Nível de risco partilhado – inclui a partilha de responsabilidades entre os actores envolvidos (público, autoridades e dono da obra), bem como a informação e participação do público.

- Fase de projecto do empreendimento: na apresentação às populações do mesmo, incluindo a quantificação do risco acrescido face aos benefícios, tendo por objectivo conseguir um risco aceite e partilhado.

- O risco pode vir a ser considerado insustentável por uma população simplesmente porque uma decisão foi tomada sem uma consulta adequada às autoridades locais ou porque as pretensões da população foram pura e simplesmente ignoradas durante o processo de decisão.

- Com efeito, uma probabilidade de rotura de 10-6 ou 10-8 pode corresponder, para um engenheiro, a um grau de segurança perfeitamente aceitável para uma barragem. No entanto, o mapa de inundação da cheia associada à referida probabilidade pode constituir uma aterrorizadora visão para os habitantes vivendo numa localidade a jusante da barragem.

- A não disponibilização ou o carácter reservado da informação conduz aos seguintes efeitos:

Uma total e acrescida responsabilidade sobre o dono da obra e as autoridades, caso ocorra um acidente. A gestão do risco no vale durante a exploração da barragem será muito menos efectiva (inexistência de uma política de restrição à ocupação de zonas perigosas e resposta inadequada a situações de emergência ou de crise).

Assim e perante a forma como estes aspectos têm passado ao largo do discurso oficial, e a vertigem com que o projecto prossegue, fazendo das questões da segurança dos vossos concidadãos, um tabu, quando não uma afronta à vossa boa fé, vimos sugerir-vos, que ponhais termo ao discurso tendente a "...minimizar a ameaça, em particular através de optimismo irrealista, controlo pessoal ou enfoque nos benefícios e negação de perigo ou seja através de ilusões positivas" – [citando o autor].
E que no âmbito das vossas competências/obrigações, não regateeis esforços no sentido de obter toda a informação que aos amarantinos é devida, com vista a assimilarem uma inequívoca quantificação do risco acrescido face aos benefícios.Certos de que V. Ex.ª não enjeitará as vossas obrigações para com a comunidade, nem se acomodará a carregar uma omissão de repercussões futuras imprevisíveis, e dentro do velho princípio de que quem não deve não teme, só poderemos aguardar que vos ireis empenhar em obter e fazer chegar aos amarantinos, os seguintes estudos respeitantes às reais implicações de segurança da barragem de Fridão:

1. Caracterização e identificação das zonas em perigo, nº de vidas em risco.

2. Nível máximo de água atingido, área submersa máxima, taxa de subida do nível de água e as velocidades extremas do escoamento.

3. Tempo de chegada da onda de inundação, tendo presente que neste estudo se aponta para que 90 minutos são o intervalo de tempo mínimo para ser possível uma protecção eficaz.

Artur Teófilo da Fonseca Freitas
Hugo Manuel Mota Cardoso da Silva
António da Silva Gonçalves
Nuno Manuel da Rocha e Freitas
António Adelino de Jesus
António Duarte
Alvaro Manuel da Cunha Cardoso

Amarante, 9 de Agosto de 2009

(com entrada na Secretaria da Câmara a 24 de Agosto de 2009)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ser ou não ser sustentável

O relatório encomendado pela Comissão Europeia a um painel internacional de peritos e que foi recentemente divulgado, a contragosto do governo português, obriga à suspensão do Plano Nacional de Barragens e recentra o debate em torno da questão fulcral: como se resolvem as exigências do desenvolvimento e da energia de uma forma sustentável?


O Plano Nacional de Barragens foi apresentado pelo governo de José Sócrates como a solução milagrosa para resolver o problema da dependência da produção de energia a partir de combustíveis fósseis, equilibrar a balança de pagamentos diminuindo as importações de combustíveis e aumentar a percentagem de produção eléctrica limpa.

Na aparência podia parecer um bom plano, só era preciso que todas as premissas fossem verdadeiras, o que não acontece.

É certo que as energias primárias importadas correspondiam em 2005 a 3,7% do PIB nacional, mas no mesmo ano, o consumo final dos combustíveis fósseis importados destinava-se na sua parcela mais significativa ao sector de transportes que absorve mais de um terço dos combustíveis importados. Diminuir este peso relativo nas importações obriga portanto a uma alteração urgente na política de transportes a par de uma política diversa para a electricidade.
O segundo logro consiste na ideia amplamente veiculada de que a produção hídrica de electricidade é limpa, isto é, que não produz gases que contribuam para o efeito de estufa e que os seus impactos para o ambiente são irrelevantes.

É preciso desconstruir esta ideia de uma forma desassombrada. Em primeiro lugar porque as bolsas de água contida nas albufeiras correspondem a uma acumulação dinâmica resultante de um movimento de "cauda longa" no ciclo da água. A água que chega às albufeiras transporta no seu movimento, muitos resíduos orgânicos que ficam depositados e em decomposição no fundo das lagoas. Este processo de decomposição produz gases diversos e todos eles contribuem para o efeito de estufa. Em segundo lugar, a contenção de grandes embalses de água, sem movimento e portanto sem oxigenação, significa que a sua própria qualidade se degrada, as espécies piscícolas migratórias desaparecem e todo o ecossistema é afectado.

O relatório agora divulgado alerta para o incumprimento da Directiva Água no que diz respeito à qualidade das águas fluviais e apresenta o que são consequências devastadoras, nomeadamente para a bacia hidrográfica do Douro para a qual está prevista a construção de 6 dos 10 projectos do Plano Nacional de Barragens.

Num quadro de eminência de mudanças do clima no nosso país, a região norte e a área abrangida pela bacia hidrográfica do Douro tem que ser equacionada do ponto de vista do seu papel estratégico. Esta é uma das regiões de maior pluviosidade, o que significa que desempenha do ponto de vista dos equilíbrios nacionais uma região essencial no que diz respeito à oferta de água potável. Pôr em risco toda esta região, que é o que a o Plano Nacional de Barragens implica, significa hipotecar no futuro uma reserva estratégica de água que pode vir a ser imprescindível.


É portanto uma decisão irracional e criminosa neste contexto.

É, além disso inútil. O acréscimo de potencial de produção eléctrica obtida a partir das barragens projectadas não vai além de um aumento de 3% de produção de energia, o que pode facilmente ser compensado em poupanças de consumo. Existe ao nível dos consumos domésticos e de serviços, que representam um segmento de elevado desperdício de electricidade, um potencial de aumento de eficiência energética que pode e deve ser elevado para uma fasquia mais exigente se for associado a um plano nacional de reabilitação urbana.

Há uma equação totalmente alternativa à da política do governo de José Sócrates que permite olhar para a procura de soluções ao nível da eficiência energética - na electricidade e nos transportes - e da produção de electricidade através de meios mais sustentáveis do que a produção hídrica, como é o caso do solar, que beneficia a economia do país, potencia o seu desenvolvimento e é geradora de emprego qualificado.

Para que essa equação seja viável é preciso que a política energética se submeta a uma lógica de serviço público ao invés da lógica de mercado que o PS e o seu governo têm defendido. A concentração empresarial da produção de electricidade, a falta de uma vontade política para um programa de eficiência energética eficaz e exigente beneficiam as operações bolsistas mas prejudicam a economia. Sustentabilidade ambiental e desenvolvimento económico são dois eixos políticos que só podem convergir para uma concepção de que os recursos que temos têm que ser colocados ao serviço de todos.


17.11.2009


Alda Macedo


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Declaração do Instituto da Democracia Portuguesa sobre o Programa Nacional de Barragens


Vários programas nacionais energéticos de grande incidência sobre o território têm vindo a embater com uma reacção pública, com origem nas próprias regiões afectadas. Foram, porém, sempre apresentados como factos consumados.

O relatório da Comissão Europeia sobre o Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico é arrasador, na linha do que vem referindo o IDP e muitos sectores da sociedade civil.

Sabe o país agora que a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) do Plano Nacional de Barragens omitiu propositadamente o tratamento de factores críticos tais como a qualidade da água, a perda de biodiversidade, o uso potencial de barragens existentes para a produção de energia (mais de 50 barragens têm agora, outros usos); as adaptações das instalações existentes às centrais hidroeléctricas, o armazenamento bombeado; o potencial das novas tecnologias; o impacto das alterações climáticas (especialmente a água e os recursos); a eventual actualização e remodelação das instalações existentes; a suposição de que a selecção dos projectos em construção e em estudo são aqueles que foram melhor adequado para ser adaptadas ou melhoradas;

Estima-se que a actualização de turbinas e geradores nas hidroeléctricas nacionais já existentes deveria permitir um aumento de capacidade entre 173 e 553 MW e estranha-se que a EDP não aposte nesta melhoria de todas as instalações hidroeléctricas, especialmente as que operam há mais de 30 anos, e que pode resultar num substancial aumento da capacidade hidroeléctrica. Esse, sim, seria um contributo para as energias sustentáveis e não apenas para os negócios de ocasião de empresas cotadas em Bolsa.

O relatório garante que com este Programa, Portugal não conseguirá atingir as metas relativas à qualidade da água, a que está comprometido até ao ano 2015 conforme a Directiva Quadro da Água.

De que serve construir mais barragens, em nome da retenção de água, se as condições de construção das nove (9) barragens mais não farão do que criar outros tantos reservatórios de água deteriorada ?

O relatório europeu refere que houve erros de cálculo inadmissíveis e que, para garantir alguma qualidade dos recursos hídricos, a geração eléctrica nestas barragens teria de ser reduzida a um terço. Ora, sendo que o Programa Nacional de Barragens já só representava, nos moldes propostos, 3% da geração hidroeléctrica nacional, calcule-se a que se reduziria no caso de se procurar uma coisa tão básica e necessária ao interesse local, regional e nacional como a preservação da qualidade da água.

A barragem de Foz Tua é um erro ecológico, um erro social, um bom negócio para uma empresa pública convertido num desinvestimento para Trás os Montes e Alto Douro. Prova-se agora ser uma ferida aberta na Coesão Nacional.

Face ao exposto, o IDP pede a suspensão imediata, para revisão séria e profunda, como solicitado pela Comissão Europeia, do vigente Programa Nacional de Barragens.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A corrupção do Défice

Acabo de receber notícia do programa televisivo "Nós Por Cá" (SIC), onde é abordado o embuste que rodeia o Plano Nacional de Barragens, que permitiu ao governo de fantoches "socialistas" arrecadar 1 383 milhões de euros do buraco negro das contas da EDP, mesmo antes de os procedimentos legais prévios estarem concluídos. Do que nele é dito e do que eu sei, ficamos todos a saber o seguinte:

1. o plano não é sustentável;
2. atenta contra a qualidade dos rios e das águas;
3. prejudica gravemente a fauna piscícola que se move entre os rios e o mar;
4. bloqueia o envio de nutrientes essenciais em direcção às fozes dos rios, onde a reprodução das espécies aquáticas ocorre;
5. traz um acréscimo de produção de energia hídrica desprezível no cômputo geral da produção eléctrica nacional (3%!);
6. produz quantidades astronómicas de CO2, nomeadamente no betão e aço necessários à construção das mesmas, que não são nem de perto nem de longe compensadas pela produção eléctrica "limpa" previsível;
7. cria emprego única e exclusivamente durante os períodos de construção, pois como qualquer deputado deveria saber, basta um encarregado local para vigiar em permanência qualquer barragem, sendo o resto da manutenção assegurado por piquetes móveis que se deslocam ao longo da rede em todo o país;
8. expropria terrenos com valor agrícola e cinegético --no caso do Douro, destrói mesmo vastas áreas de vinhedo e entra ilegalmente em território classificado como Património Mundial da Humanidade!;
9. monopoliza, em nome de dois oligopólios privados --a EDP e a Iberdrola espanhola--, as margens das albufeiras e o acesso às respectivas águas com grave prejuízo para o país e sobretudo para as populações locais;
10. arrasa paisagens insubstituíveis cujo valor económico é seguramente superior ao valor económico dos Mega Watts produzidos;
11. Em suma, delapida o património português, sem vantagens duradouras para ninguém, descontados os trocos que vão parar aos bolsos de alguns particulares indemnizados e aos bolsos de alguns políticos nacionais e locais corruptos;
12. Em nome de quê? Pois da ganância da super endividada EDP do senhor Mexia (onde a nomenclatura partidária lusitana tem uma dita Golden Share!) e da falsificação das contas públicas!!!

Digo e repito: ou os deputados da presente Legislatura começam a trabalhar seriamente sobre os problemas reais do país (ataque frontal e fulminante à epidemia de corrupção que alastra escandalosamente no Estado, nas empresas públicas e nos partidos políticos com assento parlamentar; e controlo radical do endividamento galopante do Estado e em geral de todos nós), em vez de nos distrair com jogos pueris de retórica populista, ou veremos o actual regime político caminhar rapidamente para um colapso tumultuoso.Olhem para os períodos que antecederam o assassínio da monarquia, e olhem para o período que antecedeu a queda da corrupta República Jacobina de 1910-1926!

transcrito do blogue:
http://o-antonio-maria.blogspot.com/
Posted by Antonio Cerveira Pinto

domingo, 1 de novembro de 2009

BOAS INTENÇÕES...


O novo presidente da Assembleia Municipal de Amarante, dr Pedro Cunha, depois de ter sido empossado no cargo, fez as seguintes declarações ao Marãoonline:
"...Pedro Cunha prometeu ainda dinamizar as comissões criadas no âmbito da assembleia municipal, nomeadamente a que discutirá e acompanhará o processo de construção da barragem de Fridão, que a EDP pretende construir no Rio Tâmega. "
"Vou trazer os debates que os partidos quiserem. Se o debate da barragem de Fridão chegar à Assembleia Municipal é bem-vindo. Esse debate está por fazer e é necessário que os amarantinos fiquem esclarecidos e, de uma vez por todas, saibam quem está a favor e quem está contra", considerou Pedro Cunha, que se declara "contra a barragem, frontalmente".
Veremos se, no que à Barragem de Fridão diz respeito, alguma coisa mudou como resultado das últimas eleições autárquicas.
Esperemos que sim.