
Enquanto a problemática da barragem de Fridão não figurar na Comunicação Social, ela não existe. Saúde-se mais este passo. O caminho faz-se andando.
Entre as consequências ambientais provocadas pela prevista barragem de Fridão, Rui Cortes destacou “a diminuição drástica da qualidade da água, a sua eutrofização e o inevitável aparecimento de algas, algumas delas tóxicas, a exemplo do que se verifica já na albufeira do Torrão”.
Rui Cortes alegou ainda que se for construído mais um açude a jusante da barragem para permitir a recolocação da água na albufeira principal durante a noite, aproveitando a energia das eólicas (hipótese considerada no PNBAPH), a qualidade da água colocada no curso de água (caudal ecológico) será ainda de pior qualidade.
Nessa circunstância, “a água a jusante resultaria apenas do caudal ecológico mínimo obrigatório, incapaz de sustentar a fauna e a flora existentes, pelo que Amarante, conforme a conhecemos, desapareceria”, acrescentou.
Convém salientar que o anexo V do PNBAPH já constata que “a probabilidade de ocorrência de eutrofização na respectiva albufeira é elevada, uma vez que a futura barragem se localiza em zona sensível por eutrofização e que a respectiva bacia hidrográfica tem uma ocupação ainda expressiva com área agrícola (37,3%) ”.
Acresce que, com a construção da barragem de Fridão, haveria a disposição para a subida da cota do empreendimento do Torrão, também expressa no Plano Nacional de Barragens de Alto Potencial Hidroeléctrico, o que agravaria o desastre ambiental pela inexistência de oxigenação da água.
Participaram ainda neste debate o engº Helder Leite, que chamou a atenção para os problemas da construção de uma linha de alta tensão de 400 KVA com 22 quilómetros de extensão, e a engª Berta Estevinha, que analisou em detalhe a mais que provável degradação da qualidade da água em toda a albufeira e as consequências negativas para a cidade de Amarante.
Como o refluxo das águas e algas deixaram de se verificar desde que a Câmara Municipal consolidou os açudes dos Morleiros, este malabarismo demonstra à saciedade, que a EDP e os técnicos que elaboraram o Programa, não estão de boa fé nem são pessoas de bem.
E a troco de águas e algas que já cá não chegam, os beneméritos da EDP e técnicos, em conluio, propõe-se dar de barato, as margens, ínsua, arborização e percursos pedonais e toda a moldura da ponte-casario-Igreja de S. Gonçalo, o ex-libris da cidade, sem entrar em linha de conta com a nossa tranquilidade e segurança!
É que acerca daquela iminência de uma 2ª catástrofe, relacionada com a queda da ponte de Entre-os-Rios, em 2001, nunca passaram para o domínio público, algumas situações críticas, a que estiveram expostos os residentes na zona ribeirinha, sendo esta a hora de romper o pacto de silêncio, já que os ingredientes voltarão a estar reunidos, caso o projecto da barragem de Fridão e do açude, vão avante de mãos dadas.
A queda da ponte de Entre-Os -Rios, entre outras causas, (como a extracção de inertes, falta de manutenção ou de uma monitorização eficaz) foi consequência imediata e directa, de uma descarga excepcional e descontrolada da barragem do Torrão.
É que, em resultado da suspensão das descargas da barragem do Torrão, para permitir a busca dos corpos das vítimas em Entre-os-Rios, (anote-se que a data da cheia em 2001, se inscreve no período das buscas subsequentes à queda da ponte em 4.3.2001) o nível da albufeira, subiu de tal modo que, em Amarante, uma cheia normal em qualquer ano, atingiu então as proporções dantescas que as imagens documentam liminarmente.
Se admitirmos, com o mesmo grau de probabilidade, uma descarga descontrolada, ou necessária, das barragens previstas para montante da cidade, nos picos de uma cheia equivalente (e nem precisa ser histórica), o efeito conjugado, de um açude a barrar o livre curso da torrente , (como então o paredão do Torrão), mas agora a dois passos da ponte, e sem toda a capacidade da albufeira a amortizar o acréscimo do caudal, a perspectiva é aterradora .
Na verdade, e confrontado com a maior cheia de que há memória, em 21 de Março de 2001, o então vereador do pelouro da Protecção Civil, absolutamente alarmado com a vertiginosa subida das águas, tomou a iniciativa de mandar avançar um Caterpillar D-7, para as proximidades, para a eventualidade de ter que mandar derrubar as guardas da ponte, caso o rio viesse a fechar o arco central, e transpondo-a, reeditasse a queda da anterior ponte, vai para 250 anos.
Muitos desconhecem que a queda da anterior ponte ocorreu no século XVIII, aquando de uma cheia de comparáveis proporções.
E ainda há duas semanas numa reunião na Junta de Freguesia, um dos participantes, (com conhecimento de causa, já que filho de um antigo sacristão da Igreja de S. Gonçalo), contava que o seu avô lhe tinha relatado que, em 1939, aquando da maior cheia até então, mas ainda assim inferior à de 2001 , aconteceu que um tronco se atravessou entre os dois pilares do arco central, originando uma enorme acumulação de detritos, que estavam a desencadear uma subida galopante das águas que poderia reeditar a queda da ponte, mal fechassem o arco central.
Como não houvesse, na altura, tractores D-7, foram buscar (lenda ou não, aqui fica passagem oral do testemunho) a imagem de S. Gonçalo e com umas cordas suspenderam-no do meio da ponte, até aflorar a correnteza. E fosse por que fosse, não demorou muito até que o tronco se libertou e lá foi rumo ao mar com uma esteira de detritos no seu encalço e a ponte cá continua de pé, até mais ver. Será desta?
Por alguma razão a Sr.ª da Ponte, que repousa agora, em bom recato, no nicho na parede da Igreja, à entrada da ponte, e até ver em que param as modas, nunca mais quis voltar ao seu lugar no muro a meio da ponte, donde foi salva in extremis, quando esta ameaçava ruir . É que a partir do momento em que o futuro só à EDP pertence e tudo se resume a uma questão de números, nem S.Gonçalo nos vale!
Por Amarante sem Barragens